Eu ia acabar a carreira no final da época, mas...
2020-04-29Com a situação da pandemia e o consequente estado de emergência, os treinos acabaram a meio de março. Nos dois meses e meio de competição que ficaram por disputar, iriam conhecer-se os vencedores de todas as provas.
Ou seja, ficou por fazer a parte que todas as jogadoras mais gostam. A parte em que os jogos são cada vez mais difíceis, alguns a eliminar, em que o erro é cada vez mais caro de se pagar, onde a adrenalina da competição está no seu limite máximo.
A grande maioria anseia já a próxima época, para começar tudo de novo - acredito que até a pré-época seja desejada neste momento (apesar de ser sempre a parte mais difícil). E anseia porque sabe que, chegada a hora, vai lá estar. Porque a idade assim o permite.
Agora, o que acontecerá com aquelas jogadoras, algumas já bem veteranas (apesar da imensa qualidade ainda) que tinham pensado acabar a carreira no final desta época? Imagino que algumas estejam a experimentar um sentimento de verdadeira ambiguidade.
Uma coisa é pensar em terminar de jogar, com a época concluída, um ponto final que é ajustado ao momento. Provavelmente muitos dos objetivos traçados foram alcançados, portanto fica-se com a sensação de dever cumprido.
“A HORA DE “ARRUMAR AS BOTAS” É, REGRA GERAL, MUITO DIFÍCIL PARA TODOS OS ATLETAS.”
Mas assim, com tanto ainda por disputar, como estará a cabeça e o coração destas jogadoras? Não tenho conhecimento objetivo de nenhum caso, mas, naturalmente, existirá um, se não mais.
Que decisões irão ser tomadas? Assumir de vez a vontade de terminar? Continuar por mais uma época?
Essas respostas estarão muito ligadas, também, ao motivo por detrás do desejo de colocar um ponto final na carreira - condicionamentos físicos terão um peso muito maior na decisão do que quaisquer outros motivos.
A hora de “arrumar as botas” é, regra geral, muito difícil para todos os atletas. Neste contexto específico, pela súbita interrupção da atividade, será de uma dificuldade acrescida.
A todas as jogadoras que se encontram nesta situação, se a sua decisão se mantiver no término da carreira, o que se deseja é que o seu futuro continue pelo futebol feminino: como treinadora, como dirigente, como árbitra, no departamento médico, o que seja.
Continuem ligadas!
Texto e foto: Anabela Brito Mendes.